Há quem diga que o melhor amigo do Homem é o cão. Eu digo que o melhor do amigo do político é o helicóptero. Este artigo é dividido em três capítulos e tentará demonstrar como verdadeira esta estranha afirmação. Peço desculpa pela extensão de cada capítulo, mas penso que é bom para o leitor ter um contexto mais abrangente.
ARGENTINA 2001
A crise argentina de 2001 é o melhor exemplo do impacto social, político e económico que uma crise financeira pode ter numa sociedade.
Anos 80
Vários fatores fizeram com que nos anos 80 com que o aumento do déficit e dívida pública atingissem níveis insustentáveis:
- Falência de imensas empresas - mais de 400.000;
- Ordenados em queda;
- Inflação fora de controlo - durante 1975 e 1988 crescia em média 220% ao ano;
- Pagamento de dívidas relacionadas com a guerra das ilhas Falkland (1982) contra a Inglaterra;
- Elevada evasão fiscal e elevados níveis de corrupção;
- Maioria dos empréstimos ao Estado foram feitos em dólares Americanos, o que fez com que cada vez fossem mais difíceis de pagar devido à constante depreciação do peso argentino.
Transição para os anos 90
Nos anos seguintes, o peso Argentino (doravante peso) sofreu terríveis subidas de inflação (chegou a subir

Os bons indicadores iniciais mascaravam um problema
Com o dólar a valorizar nos anos 90, fez com que, por associação, o peso também valorizasse, tendo um grande impacto nas exportações argentinas. Com uma moeda mais forte, as importações aumentaram fazendo com que a indústria argentina fosse lentamente perdendo protagonismo. Não esquecer que a Argentina exporta maioritariamente para os países Sul Americanos e Europeus - países cujas moedas na altura perdiam terreno face ao dólar. Isto fez com que o estado argentino tivesse que aumentar a necessidade de emitir mais dívida pública o que fez com que o déficit continuasse a subir. Neste período o desemprego voltou a aumentar tendo chegado a atingir os 18%.
Crise voltou no final dos anos 90
Por volta de 1999 os dados económicos da Argentina foram-se agravando, e como tal, consequências de natureza especulativa no mercado foram prejudicando ainda mais as finanças argentinas.
- "Arranjas-me uns trocos?" |
Para combater a crise, o IMF “recomendou” que se efetuassem cortes drásticos na despesa do Estado. (Hum, onde é que já vimos isto?...) Estes cortes afetaram penosamente os ordenados e pensões dos funcionários públicos (e não só), desencadeando, obviamente, um aumento insustentável de subsídios de desemprego.
Não menos importante foi o aconselhamento desta entidade para que se mantivesse o peso argentino fixado no dólar. Convém não ignorar a a extensão das privatizações das boas empresas públicas para que se pudesse encurtar a dívida soberana. Traduzindo por miúdos – alienação dos dividendos das empresas públicas por investidores estrangeiros.
Não menos importante foi o aconselhamento desta entidade para que se mantivesse o peso argentino fixado no dólar. Convém não ignorar a a extensão das privatizações das boas empresas públicas para que se pudesse encurtar a dívida soberana. Traduzindo por miúdos – alienação dos dividendos das empresas públicas por investidores estrangeiros.
Quando o problema financeiro passa a problema social…
Naturalmente, os argentinos começaram a trocar os seus pesos por dólares, pois a descrença na sua economia ia aumentando. Para combater esta tendência, o governo limitou os levantamentos a 250US$ por mês e congelou as contas pessoais.
Com os preços a subirem, a crescente incerteza no emprego, o limitado acesso a dinheiro e uma subida na taxa de habitantes em condições de pobreza extrema, fez com que o povo ficasse cada vez mais esmagado e com reduzida margem de manobra. Como esperado, com o agravar da crise económico-financeira, os motins nas ruas de Buenos Aires foram ganhando dimensão.
No dia 19 de Dezembro (2001), os protestos contra o governo tornaram-se violentos e viraram motins;
Confrontos entre locais e polícia agravaram e lojas começaram a ser pilhadas;
Confrontos entre os que pilhavam e os respectivos donos das lojas ceifaram algumas dezenas de vidas. Nesse mesmo dia, estado de emergência foi declarado pelo presidente.
Helicóptero maravilha salva o dia
No dia 20 de Dezembro de 2001, aquilo que tinha começado como um protesto de desempregados e de militantes de partidos de esquerda, estendeu-se à classe média, o que ajudou a tornar a situação
Pergunto-me: Como terá sido, 5 dias depois, o Natal para milhões de crianças argentinas?...
II Parte: Helicóptero avistado no Equador (em breve)
nota: Não discuti os anos subsequentes propositadamente pois o objectivo era escrever sobre o que antecedeu a revolução de 2011. A queda abrupta do PIB em 2002, a expulsão do FMI da Argentina, as medidas de Nestor Kirchner e o respectivo crescimento acentuado do PIB argentino nos últimos anos darão um bom artigo para o futuro.
Fontes:
Wikipedia
The Economist
UCATLAS
IMF
FPC
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