- "Próxima Paragem - Despertar..." |
Para me entreter nos 10 minutos de caminho, por vezes levo algo para ler, outras vezes simplesmente fico a olhar à minha volta - espreito pela janela na esperança de ver algo novo e olho para os cartazes publicitários a tentar perceber o que impingem, mas são as pessoas que mais me fascinam.
Gosto de observá-las e tentar perceber o que vai na suas ideia; gosto de olhar também os olhos e tentar perceber o que transmitem. No olhar conseguimos perceber muitas coisas. Os olhos expressam alegria, tristeza, solidão, preocupação, desejo, entre muitos outros sentimentos...
Os olhos são o espelho da alma... |
Mas naquela manhã, naquele comboio, algo se passava...só sentia o silêncio dos olhares que nada diziam. De fundo, conseguia ouvir os sons característicos de um comboio em movimento...Como o olhar das pessoas estava profundamente vazio, tais robõs autênticos que se deslocam para o trabalho, sem vislumbrarem quem os rodeia, sem conversarem, sem sentimento de alegria.
Em parte fiquei aflito, por outro lado, tentei idealizar as razões para tal desconcerto.
Surgem as questões
O que se passa com o Homem?
O que é feito da nossa componente social? Porque não interagimos com os estranhos? Aliás, o conceito "estranho" faz algum sentido? Afinal, um estranho é só alguém que ainda não conhecemos...mas eu tenho a sensação que as pessoas no geral associam a algo diferente. Recusam-se a interagir para não sair da sua "zona de conforto", para não se arriscarem a conhecer alguém que as possa perturbar.
Mas vejamos mais - quantas daquelas pessoas se deslocam de manhã para um trabalho que mal dá para se alimentarem durante um mês? Acredito que isso seja também uma grande razão para esvaziar aqueles olhares...
E o medo? As pessoas também vivem com medo!...apesar de muita gente achar que não, mas o medo condiciona-nos de uma forma inimaginável e está presente em muitas ocasiões do nosso dia-a-dia... Aquela viagem, foi só mais um exemplo disso.
E então apercebi-me, após breve reflexão, que não me encontrava num comboio, mas sim num campo de batalha. Numa batalha onde cada um se defende a si mesmo, onde expressar um sorriso ou cumprimentar um desconhecido pode significar a invasão do nosso espaço. É triste, mas é o que parece...
E o pior, é que fazemos tudo inconscientemente...mas andam a preparar-nos para isto à muito tempo; uma multidão separada, sem laços, é muito mais fácil de controlar. As elites têm os planos em marcha à bastante tempo e aquelas pessoas são apenas mais uns peões no tabuleiros.
Por isso tudo e muito mais, eu sorrio. Mostrando que estou tranquilo e em paz, para além de disposto a fazer tréguas com quem estiver cansado desta monotonia no comboio dos surumbáticos.
Um comentário:
Uau engenheiro saraiva. Concordo 200 %. Estive aqui a ler alguns dos seus textos e fiquei fã, vou cá voltar ;)
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